Opinião
Álcool e drogas no entorno da UCPel: tragédia anunciada
Jornalista Pablo Rodrigues aborda na [magis]+ a situação de estudantes do turno da noite da instituição que sofrem com a algazarra
Jô Folha -
Os campi das universidades surgiram no final da Idade Média - longe de ser só trevas, como querem sugerir alguns - para garantir tranquilidade e sossego aos estudos. Tranquilidade e sossego que faltam hoje, nesta “tão civilizada” contemporaneidade, aos estudantes dos cursos noturnos da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).
Qualquer pessoa que tenha passado à noite pela Gonçalves Chaves, na quadra da UCPel, já presenciou a cena, para dizer o mínimo, absurda: o desrespeito extremo de jovens que se reúnem no local para beber e se divertir. Sim, se divertir, como se a rua fosse uma boate. Tudo em pleno horário de aulas na universidade e embalado por músicas altíssimas. Sabe-se também do uso de drogas - principalmente, mas não apenas, maconha - no local.
A reitoria da UCPel tem buscado alertar os pelotenses da gravidade do que vem ocorrendo. Muitas vezes, contudo, o apelo do reitor José Carlos Bachettini Júnior se parece a um grito no meio do deserto: estéril, por não haver ouvidos dispostos a ouvir.
E não se trata somente de defender o direito à tranquilidade para estudar dos alunos da UCPel. Não, a questão é mais profunda. Trata-se de questionar valores. Como entender o sentido da palavra liberdade sem relacioná-la com algo ou alguém além de si mesmo? Em outras palavras, como entender uma certa e estranha noção de liberdade que desconsidera completamente a existência do outro? Como entender a beleza da liberdade se não a considerarmos em relação ao outro?
A liberdade tem contrapesos, mínimos freios para que possamos conviver em paz. E um deles é o respeito. Para alguns, infelizmente, o respeito, se um dia existiu, tornou-se solúvel em álcool. Na internet, principalmente via Facebook, circula vídeo de jovens em roda cantando (leia-se gritando) na calçada da universidade, bem abaixo das janelas das salas de aula. Desrespeito absoluto. Sim, porque nunca o desrespeito se dá contra um homem apenas. O desrespeito sempre se dá contra todos. Quando um assassino mata, leva não apenas a vida de alguém, mas, de certa forma, um pouco da humanidade de todos. Quando jovens desrespeitam outros jovens, no fundo é a si mesmos que desrespeitam.
A venda de bebidas alcoólicas precisa ser urgentemente restringida no entorno de zonas universitárias. O Poder Público não pode mais permanecer passivo aos apelos da UCPel. Repita-se: os apelos da Universidade não são simplesmente por seus alunos, funcionários e professores, mas pela juventude. Protegê-la e educá-la é, ainda, a melhor forma de transformar a realidade. E para melhor.
O problema está posto. Desde 2012, a UCPel busca, de maneira mais incisiva, a prefeitura e os órgãos de segurança, como a Brigada Militar, para que haja fiscalização constante. O máximo de retorno que tem conseguido são ações pontuais: mínimas concessões.
A recorrência do abuso de bebidas alcoólicas e de drogas no entorno da UCPel possui enorme potencial destruidor. É um barril de pólvora, prestes a explodir a dois passos de nós. Estamos diante da tragédia.E seguimos cantando e bebendo.
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